quarta-feira, 30 de julho de 2008

A ESQUERDOPATIA II


Neste segundo dos três artigos sobre a endemia da esquerdopatia, vou apresentar alguns dos mais batidos chavões usados pelos sinistropatas e seus respectivos contra-argumentos.

O primeiro, já apontado no artigo anterior, é o de que a pobreza do Brasil, da América Latina e de outras regiões deve-se à sua “exploração” por parte das nações ricas. Contra-argumentos: Definitivamente, o que explica a pobreza de Fulano não é a riqueza de Beltrano, sejam eles pessoas, países ou regiões, pois as causas da riqueza são as recíprocas das da pobreza. O desenvolvimento econômico é como uma peça de teatro: para ser boa, exige um razoável “script”, um cenário adequado e excelentes atores. O “script” é a ampliação contínua da capacidade de produção, isto é, a acumulação de capital; o cenário são as instituições e os atores a população. Para gerar-se riqueza de maneira a não concentrá-la, são necessários investimentos em capital humano e leis estáveis e que incentivem as pessoas a darem vazão à sua criatividade.

O segundo chavão é o de que O Brasil precisaria promover uma “reforma agrária” para redistribuir a renda e fixar o homem no campo. Contra-argumentos: reforma agrária não é e nunca foi instrumento de redistribuição de renda; a questão não está no tamanho das propriedades, mas em sua produtividade; o percentual da população que vive no campo nas sociedades adiantadas e de agriculturas mais produtivas é inferior, em média, a 3%. Nos EEUU, é de 1,5%.

A terceira falácia é a de que o país precisa de uma reforma tributária com impostos mais progressivos, para redistribuir a riqueza. Ora, o Brasil precisa, sim, de uma reforma tributária, mas que desonere cidadãos e empresas! Temos 74 tributos, muitos em “cascata”. A carga tributária subiu escandalosamente nos últimos anos e hoje beira os 40% do PIB. Ademais, a função dos impostos não é a de redistribuir a riqueza, mesmo porque não se pode redistribuir algo que não é fixo, pois a economia não é um jogo de soma zero. A função dos tributos é a de, simplesmente, manter o Estado funcionando. Todos os países que tentaram redistribuir a riqueza com impostos altamente progressivos, conseguiram apenas desestimular o trabalho e o esforço individuais e estimular o comodismo, provocando apatia, evasão fiscal e fuga de capitais e nivelando todos – inteligentes e estultos, diligentes e preguiçosos, felizardos e azarados – por baixo. Além disso, não podemos nos esquecer de que o imposto gera a sua própria despesa: quanto maior a arrecadação, maior também o apetite gastador dos governos. E os nossos já comem em excesso.

A quarta falácia é a de que o País precisa voltar a crescer, mesmo que isto signifique abrir mão do controle da inflação, pois existiria um dilema entre a inflação e o crescimento. Contra-argumento: poucas tolices são tão repetidas como essa. Na verdade, não há escolha entre inflação e desemprego, pela mesma razão que não se pode escolher entre comer demais e ter indigestão: se comermos muito, a indigestão é certa. Nenhuma economia cresce o que deseja crescer, mas sim o que pode crescer, que é determinado não pelos nossos desejos nem pelas máquinas da Casa da Moeda, mas por nossas capacidades. A inflação é provocada por investimentos mal feitos, lastreados em crédito artificialmente barato e, na medida em que o caráter ineficiente desses investimentos é revelado pelo tempo, surge o desemprego. Ou seja, a inflação ocorre quando os governos, achando que estão optando pelo “crescimento”, geram empregos artificiais e o desemprego é a conseqüência inevitável dessas más políticas. “Desenvolvimentista” todo mundo é, mas primeiro temos que saber ao certo o que é desenvolvimento e, portanto, que ele não pode ocorrer na presença de inflação. Mas os sinistropatas latino-americanos, que tanto usam a História – mas apenas quando de acordo com as suas conveniências –, simulam não terem aprendido isso.
por Ubiratan Iorio
Presidente Executivo do CIEEP

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