“Uma pessoa não abre mercado”
Entrevista: Rubens Barbosa, ex-embaixador brasileiro em Washington
O ex-embaixador do Brasil em Washington Rubens Barbosa é um crítico contumaz da política externa do governo Lula. Na visão dele, as prioridades da expansão diplomática do país devem ser revistas. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida a Zero Hora.
Zero Hora – As novas embaixadas abertas pelo Brasil, em sua maioria na África, podem influenciar na abertura de novos mercados?
Rubens Barbosa – A abertura das embaixadas não tem a ver com expansão de mercado. Tem a ver com a demanda brasileira de ingressar no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). A grande maioria das embaixadas abertas na África está instalada em condições precárias. Na maioria desses países, o que existe é um embaixador, vivendo no quarto de um hotel, que não tem apoio para fazer promoção comercial. Só uma pessoa não vai abrir mercado.
ZH – Mas o Itamaraty considera que as embaixadas ajudaram a ampliar os acordos comerciais e a presença brasileira no Exterior. O senhor discorda?Barbosa – Pode ser que na retórica oficial eles digam isso, mas na realidade a estratégia não cumpriu essa função. Essas embaixadas estão localizadas em países desimportantes. Por exemplo, qual é o país cuja capital é Uagadugu? (Burkina Faso). O Brasil abriu embaixada lá. Ninguém sabe. Porque não tem interesse nenhum.
ZH – Foi um erro abrir essas embaixadas, então?
Barbosa – Foi mais um erro da política externa brasileira. O Brasil se descuidou dos vizinhos, não está exercendo um papel importante aqui na região. Estamos em uma posição defensiva. O Mercosul está sem rumo. A Argentina faz esse escândalo, a Bolívia expropria as nossas coisas e a gente não faz nada. A gente vende commodities que não precisam de embaixador para serem comercializadas. Tanto que o aumento da receita comercial do país se deu em virtude de exportação de grãos e minérios. Não teve nada a ver com embaixadas.
Fonte: ZH
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