sexta-feira, 1 de agosto de 2008



OS LAÇOS BRASIL-FARC
Recebi um representante das Farc no gabinete
Entrevista: Rui Portanova, desembargador do Tribunal de Justiça do Estado

O desembargador gaúcho Rui Portanova, 58 anos, se define como "homem de esquerda" e se tornou conhecido como um dos expoentes da chamada Justiça Alternativa. O magistrado soube ontem por Zero Hora que mensagem das Farc o aponta como "amigo nosso" e não demonstrou surpresa.

- Mantive contato durante meses com eles, por e-mail. Tinha curiosidade por saber como vivem - justifica Portanova.


Uma resposta de acordo com a biografia de Portanova, famoso por decisões favoráveis ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Em 2003, em palestra no Fórum Social Mundial, disse que os juízes só marginalizam os movimentos sociais se quiserem, "porque não faltam leis para promover a justiça social". Em 2004, assinou um manifesto de intelectuais brasileiros intitulado "Se fôssemos venezuelanos votaríamos em Hugo Chávez". O abaixo-assinado, defendendo a reeleição do venezuelano, é endossado por líderes de esquerda como João Pedro Stédile, líder do MST.

Nesta entrevista, por telefone, o desembargador relatou como e porque se relacionou com integrantes das Farc:


Zero Hora - Como começou seu contato com as Farc?Rui Portanova - Foi quando o governador Olívio Dutra (PT) recebeu no Palácio Piratini um representante das Farc (Hernán Ramírez, em 1999). Pediram contato com algum juiz de esquerda, sobrou para mim. (Risos.) Sempre fui conhecido como alternativo, apesar de não ter vínculos com partidos. Afinal, sou juiz. Recebi o sujeito no meu gabinete no tribunal. Perguntei a ele como estavam, como viviam na selva, se tinha como ir. Disse que conhecia bem os acampamentos do MST...ZH - O senhor se ofereceu para conhecer os acampamentos da guerrilha?



Portanova - Sim, sim. Queria ver como sobrevivem. Como eu tinha algumas milhagens de avião sobrando, me ofereci para bancar a própria viagem. Aí mantive contatos por e-mail, durante meses. Quando estava para sair a viagem, deu um problema de data, não lembro bem. Acabei nunca indo. Fiquei com um pouco de medo, para ser sincero. O revolucionário brasileiro e gaúcho aqui, que chamam de juiz comunista, acabou se borrando todo, tchê. (Risos.)

ZH - Por quê?
Portanova - A coisa não estava boa por lá. A tal "zona liberada" tinha acabado. Aí não fui. Mais uma que perdi. Outro foi o Chávez, por quem assinei um manifesto em favor da reeleição. Ele esteve em Porto Alegre e até recebi convite para almoçar com El Gran Comandante. Mas aí estava na praia. Acabei não vendo o grande comandante.

ZH - O senhor acha normal um desembargador brasileiro manter contatos com uma guerrilha? O senhor contribuiu com dinheiro para as Farc?

Portanova - Acho normal, foi por curiosidade. Não contribuí com dinheiro, apesar de muito juiz de direita contribuir com deputados por aí.

FONTE: ZERO HORA

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